No Hospital São Vicente, referência em transplantes de órgãos no Brasil, o ano começou dando mais esperança para quem está na fila de espera por um transplante de fígado. Somente na primeira semana de 2017, foram realizadas cinco cirurgias para transplante do órgão – o que corresponde a 8,3% de total de transplantes ocorridos em 2016 na instituição. “Foram cinco transplantes na primeira semana, sendo que dois foram feitos já no primeiro dia do ano”, conta o responsável técnico pelo Serviço de Transplante Hepático do Hospital São Vicente, Dr. Nertan Tefilli.

Em 2016, foram feitos 60 transplantes de fígado no hospital, o que já correspondia ao dobro de cirurgias de 2015 e também a 38% dos transplantes de fígado no Paraná. Em todo o país, foram realizados 1.381 transplantes de fígado até o mês de setembro. O estado foi o segundo no Brasil com o maior número de cirurgias (155), só perdendo para São Paulo, com 468 cirurgias, de acordo com os dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos.

Para Dr. Tefilli, o aumento gradativo do número de cirurgias reflete uma maior conscientização da população. “Percebemos que as campanhas feitas pela Central de Transplante estão esclarecendo melhor a população em relação à doação de órgãos e, consequentemente, nossos pacientes estão ficando menos tempo na fila para recebê-los”, observa. Isso ajuda não só a diminuir filas de espera por órgão, como também, mas também permite que o paciente fique menos tempo em recuperação. “O transplante de fígado é o mais complexo e é o que exige mais cuidado no pós-operatório, mas, quando a espera é curta, é possível fazer a cirurgia mais rapidamente e a recuperação é melhor”, explica a enfermeira de transplantes do Hospital São Vicente, Ana Paula Nunes.

Mesmo com o aumento significativo de doações, é preciso melhorar muito, de acordo com o Ministério da Saúde. A família ainda é o principal impeditivo – 44% das delas rejeitam o procedimento no país. A coordenadora da Comissão de Captação Intrahospitalar de Órgãos e Tecidos para Transplante do Hospital São Vicente, a enfermeira Jaqueline Inácio do Nascimento, conta que percebe essa resistência no dia a dia, sobretudo por dois motivos: desconhecer a vontade de quem faleceu e receio de alteração estética. “É importante ressaltar que não há alteração física nenhuma, pois existe um cuidado grande na remoção do tecido para a aparência não ser alterada. Desconhecer a intenção do ente querido que morreu é outro fator que pesa na decisão. Por isso, as campanhas batem tanto no fato de conversar com a família. Mas, as pessoas não gostam de falar sobre morte, ainda é um tabu”. A alegação de motivos religiosos é rara. “Hoje, felizmente, os líderes religiosos atuam incentivado a doação”, observa.

Como ser um doador de órgãos
Para se tornar um doador de órgãos, basta apenas conversar com sua família e avisar da intenção em caso de falecimento. É importante lembrar que não existe alteração estética na retirada dos órgãos, que é realizada como uma cirurgia seria em uma pessoa viva. No hospital, o processo para a doação de um órgão passa pela logística da Central Estadual de Transplante (CET/PR). Doenças infectocontagiosas (como H1N1) são um critério de descarte, pois podem ser transmitidas para o receptor do órgão ou tecido. Entretanto, já há possibilidade de realizar o transplante caso o doador e receptor sejam portadores de HIV – nessa situação, a disponibilização é possível.